O momento mais assustador da minha vida

30/07/2016


Eu estava sem criatividade para escrever um post esse fim de semana, confesso, e achei a ideia desse tema no Sernaiotto. Já adianto que mês que vem o blog não irá ficar parado pois estarei participando do BEDA - Blogs Every Day August, e como muitos já devem saber, em todos os dias do mês de agosto haverá novos textos! =)

Se você quiser participar do BEDA e quiser receber orientações a respeito, o grupo United Blogs está se organizando e lá você encontra dicas para se planejar e um documento com várias ideias de novos posts. Vale muito a pena! Eu estou muito ansiosa e espero adquirir muito conhecimento nesse desafio. No dia 01 de agosto vocês irão saber tudo o que eu penso a respeito da BEDA, dificuldades e afins, mas...

...Vamos ao assunto do post! 

Era minha primeira semana na universidade. Moro perto dela, o que é uma benção e tanto. Mas como o prédio do meu curso não estava pronto, eu estava tendo aulas em outro departamento, mais distante do prédio central e mais longe da minha casa. Não tão longe, mas ir e voltar andando é muito complicado e ainda mais perigoso à noite.

Menos mal porque a universidade disponibiliza um micro-ônibus circular, que leva os estudantes a um departamento a outro. Larguei às 9:30 da noite e fiquei esperando pelo tal veículo. Era uma sexta-feira, último dia da primeira semana de aula (24 de maio de 2013) e tudo tinha corrido bem até então. Alguns colegas se despedem e vão à parada pública de ônibus. Eu penso em ir com eles para não ficar sozinha. Mas preferi esperar o circular até para não pagar passagem.

Pego o celular e desço no prédio central. Agora é só andar uns 10 minutos até chegar em casa. Tudo bem então. Ou não. Estou andando, tranquila nos meus pensamentos. Quando ouço um cara na bicicleta se aproximar. Ele toca uma espécie de sino, que faz um som, num gesto semelhante a "buzinar para uma mulher que passa na rua". Eu não conheço o cara, e ignoro como faço com outros.

Mas aí esse cara em vez de seguir seu caminho dá a volta na bicicleta e vem na minha direção. Naquele momento eu tinha certeza de que alguma coisa de muito grave iria acontecer comigo. Minha primeira resposta foi perguntar a Deus: "meu Deus, o que ele vai fazer comigo?". Imediatamente eu pensei se eu iria só ser estuprada, ou se eu se eu iria ser estuprada, esquartejada, ter meu corpo encontrado no matagal e ser notícia no dia seguinte. Mais um caso de violência contra à mulher em Pernambuco que seria esquecido.

Olho para trás e a rua está deserta. Lembro que de longe vi um motoqueiro, mas ele parecia andar devagar para ver o que está acontecendo. Foi tudo muito rápido, mas eu tive a impressão de que ele estava fazendo isso para assistir o que iria acontecer e não para me ajudar.

Volto a focar na minha situação. Eu já estava ciente de que iria sofrer ali pois estava sozinha e indefesa. A rua era muito escura e por todo lado há uma região de mata aberta, ou seja, se ele quiser fazer alguma comigo a oportunidade está logo ali. Escancarada. Eu estava vulnerável e não podia fazer nada.

Ele se aproxima com a bicicleta e começa a falar um monte de perguntas: "Está voltando da escola agora?".  Ele fala como se me conhecesse, mas eu nunca vi aquele homem na minha vida. Pelo modo que ele falava, eu logo percebi  que ele era doido e tinha problemas. Mas ele não parava de falar besteira. Eu fiquei muito incomodada e pensei: "Que escola, tá doido? Já passei dessa fase, tô na universidade já, não aguentava mais escola!". 

O que eu fiz? Eu reparei que ele tinha problemas e que só falava coisa com coisa. Daí ele insistiu para que eu pegasse carona na bicicleta dele e ele me levasse pra casa. Simplesmente ignorei. Como ele era muito esquisito e não agiu de forma bruta, eu logo percebi que ele era meio abestalhado (bobão), como se diz aqui no Nordeste. Tentei absorver nada do que ele dizia e comecei a andar mais rápido. Ele se chateou e começou a falar indignado: "Ficasse com medo de mim?" "Fala comigo!". Sendo que ele falava um monte de besteiras e eu não tinha a menor noção do porquê aquele cara estava me perseguindo e insistindo que eu desse atenção ele.

A sorte é que minha casa era perto e eu pude mudar de caminho e enfim, aquele tal cara pôde seguir em frente e graças a Deus não me seguiu mais. Mas ele não perdeu a oportunidade de me xingar e de gritar coisas como "aprende a falar!". 

Não se tratava de uma pessoa solidária que me viu sozinha na rua e quis me ajudar, me oferecer uma carona e me fazer voltar em segurança. Era um homem desconhecido com problemas mentais insistindo em me levar com ele pra sei lá onde fazer não sei o quê como se eu tivesse dado liberdade a ele e ele tivesse autoridade pra me tratar de qualquer jeito. Sei que algumas pessoas entendem um relato e gostam de tratá-lo com uma visão que não corresponde à realidade. Eu sei o que eu passei.

Foi assustador? Sim! Por um momento eu tive a certeza de que seria violentada e não sabia se estaria viva no dia seguinte. Eu fiquei exposta a isso. Na hora a primeira coisa foi perguntar a Deus o que iria me acontecer, pois eu já tinha me rendido e vi que não iria me safar da situação. 

Por livramento eu pude reagir da maneira mais sensata possível, que é ignorar e não revidar com agressões, mas e se eu não tivesse essa chance? Eu me vi tão sozinha que nem gritei por ajuda porque não tinha ninguém na rua e ninguém para recorrer, apenas tive que lidar com aquilo e fugir por mim mesma. Por um momento eu tive a certeza de que seria notícia nos jornais no dia seguinte. Ainda bem que não fui!

Eu já comentei sobre assédio contra mulheres aqui e o post é o Assédio nas ruas: Desde quando eu sou sua?.

Eu passei a evitar o circular e comecei a pegar ônibus comum. Depois que o prédio do meu curso foi inaugurado eu voltei a ir pra casa andando, mas sempre que tenho aula à noite ando o mais apressado possível!

Esse foi o meu relato e vocês já passaram por algo parecido? Ou já vivenciaram algo mais assustador ainda?

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24 comentários

  1. Que angustiante, e nessas horas a mente imagina coisas que nos deixa ainda mais nervosas e tudo de muito rápido

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    1. Muito rápido mesmo! Eu não tive nem tempo de raciocinar direito...

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  2. Putz, que angustiante. Ainda bem que não foi nada mais grave e que você conseguiu lidar com a situação "numa boa".

    Beijos :)

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  3. Que nervoso me deu. Também vivo com medo, às vezes até durante o dia mesmo. Aqui onde moro tem assalto as 10 da manhã, com arma e tudo. Dá um certo receio andar sozinha em qualquer lugar, principalmente pelos mil casos que passam pela nossa cabeça. O que nos resta é literalmente fazer uma prece antes de sair na rua e torcer para que tudo fique bem e nada nos aconteça. Adorei a ideia do teu post, apesar de angustiante, serve como uma boa reflexão ♥ É bom saber que ficou bem depois disso.

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    1. E infelizmente essa é a realidade de muitos lugares aqui no Brasil :(
      Estamos a mercê de pessoas maldosas e nunca sabemos o mal que pode nos acontecer.
      Realmente, fica a lição pra quem passar por algo parecido! Sair ilesa disso tudo é muito bom.

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  4. Ainnn! Nervoso e angústia me definem aqui haha
    Graças a Deus até agora não sofri nenhum assalto aqui no RJ mas posso imaginar seus sentimentos!
    Big Beijinhos, sucesso com o blog! <3

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  5. Eu fico indignada e muito nervosa com isso. Não só porque muitas mulheres passam por isso, mas também por que nós temos que ter medo de andar por uma rua à noite por causa de estupros e assédios. Nunca passei por algo assim, mas sempre fico tensa quando chego da escola muito tarde e tenho que ir andado ponto de ônibus até em casa :(

    Fico feliz que nada tenha acontecido e espero que nunca aconteça! Beijos :*

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    1. Imagino! São inúmeros casos e parece que infelizmente as pessoas se acostumaram a assistir a tudo isso. Eu não aguento mais!
      Também torço pra que casos assim não se repitam nem comigo nem com ninguém.
      Beijo

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  6. Nossa. EU não andaria mais... Eu correria ;SSS

    canaleusendoassim.blogspot.com

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  7. Mulheeeeerr!!! que sustooo!!
    No mundo de hoje a gente não pode mais sair de casa tranquila né? E isso é muito chato!
    Eu nunca passei por algo assim não, mas só de pensar já arrepiei!
    <3

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  8. Que coisa terrível! Eu consigo imaginar o medo q vc sentiu. Eu estahiava em um lugar e saía as sete da noite. Eis q a rua por onde eu tinha q passar era super escura e cheia de árvores, nao passava ninguém, e pra piorar, vivia cheio fe gente usando drogas. Eu morria de medo de passar la. Tinha uns caras q mechiam comigo, eu passava o mais rapido q podia, as vezes até enrolava pra ir embora pra poder ir com alguem. Teve um dia q um veio na minha direção e segurou meu braço e me pediu "uns trocados". Eu fiquei tao assustada q voltei correndo pro estágio. Depois daquele dia eu pedi meu chefe pra trocar de horário pra poder sair mais cedo e ficava eaperando sair mais gente pra ir junto. Situação q eu nao desejo pra ninguém.

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    1. É muito chato que a gente sempre sai como prejudicadas e não acontece nada com esses "cidadãos", que ainda se julgam os corretos da história! Não devíamos mudar nossos horários nem nada na nossa vida por causa de pessoas assim!

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  9. Aí, infelizmente, isso é tão comum.
    Temos que relatar sempre, expor para que ninguém ache que é mentira ou algo a mais. Cuidado moça, muito cuidado!

    www.cantinhob.com

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    1. Infelizmente :(
      Temos que expressar nossos casos e conhecer outros. Manter todas em alerta!

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  10. Te entendo! passei por várias situações idênticas e variadas e eu travava de medo o tempo todo :(
    Não quero nem lembrar, de verdade.

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  11. A cada palavra que eu lia era um aperto em meu coração. Ser mulher não deveria ser sinônimo de medo, mas infelizmente é por situações como essas. Agradeço sempre que não preciso andar sozinha à noite, mas quando tenho é orando na ida e na volta.
    Forever XVI

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    1. Bem assim! Isso tudo porque somos mulheres, enquanto que homens não alimentam esse medo.

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  12. Por coisas que o feminismo é importante, antigamente esse tipo de caso era tido como "normal" e a culpa era sempre nossa. Já passei por caso assim diversas vezes indo pro pré vestibular, é uma sensação horrível.
    Blog da Vicky

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    1. Horrível mesmo. E o pior que estamos fadadas a passar por isso com frequência e algumas pessoas, até mulheres, acham que devemos nos acostumar, nos culpam e acham que isso não pode ser mudado. Meus pais pensam assim e é um absurdo!

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